17 de fevereiro de 2012

Resenha: Borralheiro - Fabrício Carpinejar


Para quem ainda não conhece, Fabrício Carpinejar é um escritor gaúcho, filho de nada mais nada menos do que Carlos Nejar, um dos membros da Academia Brasileira de Letras. Embora tenhamos conhecimento de muitos filhos sem talento que pegam carona no sucesso dos pais, Fabrício Carpinejar não é desses. Dono de um talento inegável, o seu nome vem ganhando um espaço cada vez maior na literatura nacional contemporânea.

Confesso que só ouvi falar a primeira vez em Carpinejar ao assistir a uma entrevista dele no Jô Soares. O visual nada ortodoxo me chamou atenção, mas as frases pontiagudas que ele disparava na entrevista fez com que eu me interessasse pelo seu trabalho. Descobri seu blog e logo depois comprei o seu último livro lançado "Borralheiro".

"Borralheiro - Minha viagem pela casa" é um livro de crônicas e se a contagem não falhou, são 90 crônicas que o compõe. O livro trata sobre o homem do lar, que não tem vergonha da sua sensibilidade e que possui até uma certa submissão em relação a mulher que ama. Todas as crônicas abordam a temática preferida do escritor: O amor.

Carpinejar sabe escrever sobre o amor como poucos, seu relato é sincero, sua escrita parece mesmo um desabafo em meio a tinta e o papel. Desafio alguém a ler uma das crônicas e não se identificar com nenhuma delas. Sua escrita é visceral, sua prosa tem matizes de poesia. 

Já li o livro inteiro duas vezes, mas ele fica na minha cabeceira, pois volta e meia dou uma espiadinha em uma página ou outra, releio meus grifos, me delicio com as frases de efeito, me encanto com as conjunções tão bem elaboradas.

Segue abaixo uma das minha crônicas favoritas, espero que também gostem.

MUITAS CHANCES NUMA ÚNICA CHANCE
Não pensem que todos querem um amor grande. Reclamam, mas não querem.
Há gente que diminui o amor de propósito para não sofrer com ele. Elabora uma versão para provar que ele não existiu. Deixamos o amor escapar, sumir, desaparecer para não se atrapalhar. Há gente que até se convence de que aquele amor grande não era devidamente grande.
Há gente que pede um amor pequeno, doméstico, que não desestruture seus hábitos. Um amor anão de jardim, um amor de balcão, de pé, rápido. Um amor minúsculo, sem acento, que não rivalize o amor-próprio. Que esteja próximo, mas não fale alto, que esteja perto, mas não influencie, que seja chamado quando se tem vontade e seja desfeito quando não serve mais.
O amor grande não traz uma felicidade constante - é a principal cilada -, traz uma felicidade irregular, intensa, atávica, que voa muito mais alto do que o conforto. Na estabilidade, é fácil sair da felicidade e da tristeza. No amor, descobrimos o quando podemos ser felizes, e incomoda ter que buscar mais felicidade. Descobrimos o quanto também podemos ser tristes, e incomoda que não sairemos da tristeza sem que o amor volte.
Um amor miúdo vai ao psiquiatra de manhã e termina a relação de noite. O amor grande termina com psiquiatra de manhã e se reconcilia à noite.
Porque o amor grande é uma insanidade lúcia, nem os melhores amigos entendem, é detratar e se retratar com mais frequência do que se gostaria. Amor é o excesso de responsabilidade, de encargo, confiado a quem nos acompanha. Oferecemos o que não conseguimos alcançar.
Sempre seremos menores do que ele, já que é o único que cresce na extinção. Minha mãe costuma dizer que casamos quando encontramos uma solidão maior do que a nossa - só assim saímos da própria solidão.
Há gente sim, que muda de amor para não mudar de opinião, que muda de homem para não mudar sua rotina, que manda onde não vigora poder e dominação. Que culpa o amor por não dar conta dele, que ama já pedindo desculpa por não amar.
O amor grande não é um grande amor.
Há gente que desperdiça a chance do amor grande porque há apenas uma chance para amar grande. Muitas chances dentro de uma chance. O resto são disfarces, suturas, apoios.
Amor grande seria insuportável duas vezes nesta vida. Ou a gente se apequena para receber esse amor ou permanece se engrandecendo para não aceitá-lo.
( Capinejar, Fabrício. Borralheiro, Bertrand Brasil, P. 177 e 178)


Foto ilustrativa que eu tirei do livro e do meu colar com pingentinho da Torre Eiffel.

F


Postado por Renata A às 20:30

1 comentários:

Lanny F disse...

Amei a dica, parece ótimo. Já ouvi falar do autor, mas ainda não conhecia nenhuma obra dele =p
Beijos, =*
http://sorvetedecupu.blogspot.com/
@sorvetedecupu

Postar um comentário