22 de março de 2015

Quando você foi embora...


Quando você foi embora, o que mais doeu não foi a sua ausência...
Foram os detalhes - os pequenos e malditos detalhes! - que insistiam em me denunciar.

Meu calcanhar de Aquiles era não ter o seu cheiro sempre à espreita, não ter o seu sorriso para alegrar o final do meu dia, não ouvir nossas respirações em uníssono quando chegávamos ao ápice do prazer.

O que me matava lentamente era entender, pouco a pouco, que não teria mais o teu abraço complacente quando eu sentisse medo e nem sentiria você puxando minha mão esquerda para colocar por cima da sua enquanto trocava a marcha do carro... Naquele jeito todo teu de dizer através de atitudes que me queria sempre perto!

O que me fazia falta eram os nossos longos papos-cabeça, sobre a vida, o universo, sobre tudo e sobre nada! E também das nossas bobeiras - tão, tão nossas!-, das teorias implausíveis, das gargalhadas que faziam doer a mandíbula, desse teu jeito lindo de permear entre o sério e o divertido com maestria.

O que me sufocava por dentro era não ter mais a sua voz sussurrando em meu ouvido, era não ouvir tuas reclamações do trânsito caótico da cidade ou daquelas ligações inesperadas dizendo apenas que "me amava... absurdamente!", sem nenhuma explicação posterior.

O que me asfixiava era imaginar as suas mãos deslizando em outras coxas, seus lábios percorrendo outros corpos, teu coração (tão meu!) pulsando junto a outro coração.

O que me fazia entrar em desespero era não ter aquele seu olhar felino sempre me vigiando, como um lince preparando sua emboscada, seguindo meus passos pela casa, me despindo inteira sem sequer me tocar.

O que me enlouquecia era a falta que me fazia a tua urgência, daquele teu jeito de me olhar da cabeça aos pés quando eu estava de moletom, coque e sem maquiagem nenhuma e, ainda assim, dizer que eu era "tão linda". E me fazer acreditar!

E, de todos esses detalhes, de todas essas pequeninas minúcias que dilaceram meu corpo e minha alma, não há nada que doa mais do que saber que, não importa por onde eu ande ou por quantos mares navegue. Sem você, não tenho mais para onde voltar.

Renata Sodré.
Postado por Renata A às 11:48

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